Tudo começa na Normandia, no século XIX. A guerra entre o Império Francês e a Prússia ainda não começou, mas já de um e de outro lado se fazem os preparativos. As chefias militares pedem cavalos mais adaptados a uma guerra “moderna”. São necessários animais fortes mas mais rápidos do que os existentes, cuja criação privilegiara o bom trote e o poder de tracção. Os criadores ouvem o seu principal cliente, o exercito, e cruzam repetidamente as suas excelentes éguas com o Puro Sangue Inglês. Nasce então o principal antepassado do Sela Francês, o Anglo-normando, com uma muito maior elasticidade e um melhor galope.
A guerra de 1870 leva à queda do Segundo Império e é seguida pela Primeira Guerra Mundial. Com ela acaba toda uma tradição militar equestre. Os exércitos deixam de se afrontar carregando uns sobre os outros a galope largo, e, ao contrário, faz-se uma guerra de trincheiras, de tanques e de bombas. A era do cavalo de guerra terminara.
Mas o Anglo-normando encontra uma saída, aproveitando-se do extraordinário desenvolvimento da equitação desportiva e das sociedades hípicas, ambas fortemente fomentadas pelo então Director do Haras de Saint-Lô. E torna-se o cavalo por excelência para a instrução, ao mesmo tempo que começam a surgir óptimos animais de competição.
Enfim, os criadores depressa compreendem que o cavalo de desporto é fonte de receita assegurada e que é o concurso hípico que mais clientela terá. Orientam então a sua produção essencialmente para aquela disciplina.
Só em 18 de Dezembro de 1958 é que, por decreto do Ministério da Agricultura, é criado o “Stud-book du Cheval de Selle Français”. No seu registo são inscritos todos os “demi-sang” existentes, com excepção do Anglo-árabe.
Em 1987 este Livro é fechado, para, inteligentemente, em 1997 reabrir o seu registo a reprodutores de algumas raças de desporto estrangeiras. É que, por muito boa que seja uma raça, importa não estagnar, evoluindo.
Com 8 800 criadores, 14 000 éguas cobertas anualmente, 574 garanhões em actividade e 25 000 animais em competição, o Sela Francês é um cavalo com uma estatura média ideal compreendida entre 1,60 m e 1,75 m, uma massa óssea sólida e um “potente motor”. O corpo é bem proporcionado, o dorso bastante longo e direito, a espádua obliqua. O perímetro do peito ideal oscila entre 1,80 m e 1,90 m, e o dos canhões à volta de 21 cm. A cabeça é larga com olhos afastados, preferindo-se um chanfro direito e orelhas longas.
Equilibrado, voluntário, vigoroso e dócil, o Sela Francês convém a todas as disciplinas, mas particularmente ao concurso hípico e ao completo, sendo o ensino e a atrelagem as competições para que apresenta menos aptidão.
Eficientes, muitos são os animais Sela Francês ganhadores em Concurso Hípico. Ao acaso, lembramo-nos de:
- I Love You, Campeão do Mundo em Viena e Vice-campeão do Mundo em Goteborg;
- Jappeloup, medalha de ouro individual nos J. O. em Seoul e Campeão da Europa (com Pierre Durand);
- Quito de Baussy, medalha de ouro de Salto de obstáculos nos Campeonatos do mundo de Estokolmo (com 8 anos), Campeão da Europa individual, medalha de bronze nos J.O. de Barcelona (Eric Navet), o seu sémen é actualmente utilizado no mundo inteiro;
- Rochet M, ex Rochet Rouge, medalha de bronze nos J. O. de Atlanta (Alexandra Ledermann);
- Quidam de Revel, 4º em individual nos J. O. de Barcelona (Hervé Godignon);
- Miss Fan, ex Sissi de la Lande, medalha de prata nos Campeonatos do Mundo de la Haye (com Michel Robert), e membro da equipa irlandesa em Atlanta (Eddy Macken);
- Twist du Valon, grande ganhador internacional com Hervé Godignon, e depois com Mc Lane Ward (USA).
Embora os responsáveis só muito recentemente se tenham preocupado com a selecção de animais Sela Francês para Concurso Completo, também nesta disciplina ele brilha:
- Twist de Labège, foi vencedor do Campeonato da Europa de Achselschwang, Alemanha (Jean-Loup Bigot);
- Rodosto, 4º individual nos J.O. de Atlanta (Jean Teulère);
- Spartacus III , grande ganhador internacional com Lara Villata (Itália);
- e para recompensar o recente esforço feito pela França em favor desta disciplina, em 2001, a raça Sela Francês foi Campeã do Mundo dos 6 anos (Histoire de Triballe), Campeã do Mundo dos 7 anos (Galant de Sauvagère), Campeã do Mundo por raças e Vice-campeã da Europa por equipas (com Baba au Rhum, neto de Oxylla Ben Biarritz, da Coudelaria portuguesa de M. Heleno).
Enfim, produto de uma criação cavalar perfeitamente estruturada desde Napoleão, o Sela Francês é incontestavelmente uma das melhores raças de cavalos de desporto que actualmente existem e certamente uma das que maior influência teve e tem na criação cavalar mundial. Efectivamente, se em alguns stud-books celebres riscarmos todos os animais que têm sangue de origem francesa, eles ficam terrivelmente empobrecidos.